O torcedor é a base do futebol. Sem esse elemento não há razão para o esporte existir. Qual seria o sentido de uma transmissão de um jogo pela TV sem ele? Quem ouviria a emoção de um narrador de uma partida no rádio? Quem leria as notícias futebolísticas na segunda-feira nos jornais impressos? Quem acessaria os sites especializados no assunto na internet? Os próprios jogadores, como abraçariam uma profissão que na maioria das vezes nasce ainda na infância em "rachinhas" e "peladas" onde é comum ver a mistura colorida das camisas dos times de coração?
Em tempos difíceis até para os maiores times do Estado, os clubes cearenses de menor expressão investem na união e em propostas inovadoras para voltar a levar pessoas que gostam de futebol aos estádios locais fotos: Kid júniorDifícil imaginar o sucesso que esse esporte adquiriu no mundo todo sem essa figura essencial. No Estado, os dois maiores clubes locais ainda podem se gabar de poder contar com esse grande e fundamental patrimônio. Mas se para Fortaleza e Ceará os desafios já são grandes para atrair, manter e recuperar torcedores, imagine para os clubes cearenses de menor expressão.
A saída passa por melhorar a arrecadação. Com mais dinheiro em caixa, é possível fazer times mais competitivos e de melhor qualidade; investir nas categorias de base e em contratações; ampliar a infraestrutura desses clubes pequenos e profissionalizar o futebol em todos os sentidos, de fato e de direito.
Sinuca de bico
Para os pessimistas, é praticamente impossível que os clubes pequenos se fortaleçam. Eles vivem um processo justamente inverso. Vivem uma verdadeira "sinuca de bico". A cada ano, ficam cada vez mais fragilizados e dependentes das rendas dos jogos contra Ceará e Fortaleza, que também já não têm sido tão atraentes como em tempos idos.
Para os otimistas, a solução é bem mais simples do que parece. Basta reler a primeira frase dessa reportagem e fazer valer essa máxima. Como? A resposta é unido-se e criando uma nova safra de torcedores. É com esse pensamento que surgiu a União Cearense de Clubes (Uniclubes). A entidade foi criada neste ano e já representa 25 clubes do Estado.
Novo formato
De acordo com o presidente da Uniclubes, o ex-jogador Mirandinha, a ideia não é promover apenas um clube isoladamente ou ser contrário à Federação Cearense de Futebol (FCF), simplesmente por ser contrário. "Jamais tivemos esse pensamento. Queremos trabalhar junto com a Federação. É um movimento que não visa agredir ninguém. É o momento de fazermos mudança para o bem do futebol cearense", afirma Mirandinha.
Conforme o idealizador da iniciativa, Aguiar Júnior, "criar" torcedores é a alternativa para evitar a extinção dos clubes pequenos do futebol cearense. "O grande problema é que o modelo que está posto em prática é um modelo falido e provoca uma dicotomia burra onde as coisas funcionam apenas para Ceará e Fortaleza. Um campeonato não é feito apenas com duas equipes", diz.
Alternativa
A sugestão da Uniclubes para a FCF é extinguir a Terceira Divisão do futebol cearense e conduzir os times para duas divisões com 16 clubes em cada. A justificativa seria acabar com o saldo negativo dos clubes pequenos constatada a cada fim de competição. "Replicar a primeira divisão com dois grupos, como é feito no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, com os dois do Campeonato do Nordeste entrando na fase posterior. Assim, reduziríamos número de jogos, os clubes teriam mais arrecadação e melhoria da qualidade das partidas", conta Aguiar Júnior.
Segundo ele, a "Super-Segundona" do Cearense seria regionalizada como hoje é feito na Série D do Brasileiro. "Haveria menos despesas com hospedagens e deslocamentos para os pequenos, além de jogos com os melhores árbitros locais, já que nossa proposta é que a competição ocorra no segundo semestre, como era anteriormente", explica.
Dessa forma, a Uniclubes acredita que daria os primeiros passos para conquistar novos e velhos torcedores para os estádios. Ações de marketing também já estão sendo traçadas para complementar essas propostas.
O diretor de marketing da entidade, Fabiano Moraes, acredita em um projeto para que os torcedores possam ser motivados a ver jogos de outros clubes filiados à Uniclubes.
Sócio-torcedor a R$ 10 para 30 clubesA meta do novíssimo movimento para agregar e fortalecer o futebol cearense é que, até o fim deste ano, 30 clubes estejam filiados à Uniclubes. Em uma proposta inovadora, inspirada, mas, ao mesmo tempo, diferenciada dos modelos de ´sócio-torcedor´ espalhados pelo País; a entidade pretende "criar" torcedores nos clubes de menor projeção a partir da cobrança de uma mensalidade fixa que ofereça a entrada gratuita nos jogos de todos os associados da Uniclubes.
O ex-jogador Mirandinha preside a Uniclubes com o sonho de tornar o futebol cearense mais competitivo, com jogos de melhor qualidade, mais arrecadação para pequenos clubes, menos despesas e atração de torcedoresConforme a direção da entidade, com o valor fixo de R$ 10 por mês, o torcedor do Calouros do Ar, por exemplo, poderá assistir ao jogos dos outros times associados. "Esperamos que nos próximos 60 dias a gente chegue a 1.000 sócio-torcedores". A divisão do valor é de 80% para o clube de coração do torcedor e 20% para Uniclubes manter despesas administrativas do programa, que será administrado pela empresa paulista MTDF Ltda.
"Estamos visando a melhor qualidade dos jogos do futebol cearense. A partir do momento em que as pessoas começarem a perceber a seriedade dos clubes vão passar a aderir ao programa", acredita Mirandinha.
Promoções
Como os demais planos, os sócios-torcedores da Uniclubes terão benefícios em redes credenciadas de compras e irão participar de promoções, por meio do mesmo cartão que lhes darão acesso livre aos estádios.
Para o idealizador da entidade, Aguiar Júnior, a ideia é criar uma torcida para esses clubes menores com um perfil envolto na cultura da paz, onde possam sentar-se lado a lado, dois, três, quatro ou vários torcedores de clubes diferentes. "Não é uma coisa absurda", crê Aguiar.
Maguary aposta em estratégias sociaisPara o Maguary, um dos clubes mais tradicionais do Estado, revitalizado nos últimos anos após um longo período de inatividade, os clubes de menor expressão podem começar um processo para trazer de volta um perfil de torcedor especial, que leva a família para o estádio.
De acordo com o diretor de marketing do Maguary e também da Uniclubes, Fabiano Moraes, a ideia é fortalecer a identidade dos simpatizantes do clube a partir de elementos históricos que traçaram toda a trajetória do Maguary, um dos times associados à Uniclubes que já foi campeão cearense de futebol.
"Estamos com foco no concurso da Miss Maguary, que concorrerá ao Rainha das Torcidas e ao Miss Ceará. Esse tipo de ação mobiliza famílias inteiras das concorrentes e as aproxima dos clubes", conta, enfatizando que o Maguary tem um histórico nessas ações paralelas ao futebol.
INICIATIVA
"Muitos criticam a situação do futebol cearense, mas poucos se debruçam em alternativas viáveis para solucionar o problema"
aguiar júnior
Mentor da Uniclubes
SAIBA MAIS
PEBOL FORTALECIDO
A União Cearense de Clubes (Uniclubes), movimento que congrega e organiza 25 clubes profissionais do futebol cearense, lançou no dia 4 de setembro de 2013, no Salão de Eventos do ´Restaurante Raízes´, um programa que promete mexer com os modelos de ´Sócios Torcedores´ no Brasil.
Mandato
O presidente da entidade terá mandato de quatro meses e será eleito em sistema de rodízio entre os presidentes dos clubes associados.
Associados
Crateús, Maguary, Calouros do Ar, América, Tiradentes, Iguatu, Terra e Mar, Uniclinic, Eusébio, Barbalha, Maracanã, Arsenal de Caridade, São Benedito, Pacatuba, Maranguape, Nova Russas, Itarema, Caucaia, Aliança Atlética (Pacatuba), União, Paracuru, Limoeiro, Messejana e Jardim. O Tianguá não está filiado à FCF, por isso é membro observador.
Ilo Santiago Jr.Subeditor
fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1315289
